Por Ana Cláudia Freire
“Me diga uma coisa garota: você está feliz nesse mundo moderno ou você precisa de mais? Existe algo que você esteja procurando?”
Há um ano eu estava no topo de um dos prédios mais altos do mundo, no coração da “capital” do mundo e essa pergunta não saia da minha cabeça.
Em meio à multidão de pessoas que se acotovelavam pelo melhor ângulo da selfie para garantir o post das as redes sociais, a canção que foi tema do remake “Nasce uma Estrela” (2018), eternizada pela voz de Lady Gaga em um dueto com o ator Bradley Cooper, me torturava com seus questionamentos.
Me lembro dos olhares condenatórios de familiares e amigos quando voltei pro Brasil e tive a coragem de dizer que Nova Iorque não era tudo aquilo, que provavelmente não seria um destino de retorno. Sabe herege?
Calma, NYC é tudo isso que a gente vê no cinema sim. A cidade é fantástica, espetacular. Não é a cidade. Levei muito tempo pra digerir e entender que poderia estar em qualquer lugar do mundo, que estaria me sentindo no raso. “Segura”, mas no raso!
O meu processo de mudança, de busca interior, de autoconhecimento, já havia começado e nem mesmo estar no topo do imponente Rockfeller Center conseguiu me seduzir à época.
Naquele momento eu fazia parte de um grupo nada seleto de pessoas que precisa de medicação pra amortizar suas angústias e inquietudes. Eu combatia a ansiedade, algumas pessoas lutam com a depressão e outras tantas lutam com os vários outros transtornos. Somos um grupo de pessoas em busca de saúde mental.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, o Brasil lidera o ranking mundial de transtornos mentais. Ocupamos a primeira posição em sintomas de ansiedade, com mais de 18 milhões de pessoas com o transtorno no país.
Quando falamos em depressão, somos mais de 11 milhões de brasileiros adoecidos e ocupamos o triste segundo lugar no pódium. Me choco ao saber que crianças e jovens adolescentes engrossam a lista de pessoas que não vem mais perspectivas e acabam tirando a própria vida.
São milhares e milhares de pessoas mundo a fora achando procurando uma pontinha no “raso”, na “superfície”, aonde aprendemos que é “seguro”.
Era isso, não importava aonde eu estivesse naquele momento, eu não estava em paz comigo, eu já tinha dado um passinho pro fundão.
Meu olhar tinha outro foco e não conseguiu ficar distraído nas luzes, que são tantas e em todos os lugares, gritando pra que você esteja alerta e acelerado.
Ao contrário, meu olhar viu uma NYC sombria (quase que aquela que inspira Gotham City). Uma NYC onde a obesidade mórbida passeia de carrinho pelas ruas carregando seu fast food. Aonde o lixo acumulado à noite, ao lado de fora dos vários restaurantes e lojas de toda ordem de consumo, serve de colchão para a infinidade de homeless que habita a cidade. A hostilidade de imigrantes que lutam pra garantir uma vaga em algum subemprego que garanta a sua permanência no país dos sonhos.
Talvez (me perguntei na época) se eu tivesse ido para um mosteiro em algum lugar do mundo oriental, um templo, em retiro, talvez me sentisse melhor. Hoje eu sei que isso é uma ilusão também. Não é verdade!
“Quando não estamos bem e em paz, não há lugar no planeta que seja capaz de nos colocar no local de plenitude”
Outro trecho da canção de Gaga diz que: “ nos bons momentos eu anseio por mudança, mas nos maus momentos eu tenho medo de mim mesma”. Quando não estamos bem e em paz, não há lugar no planeta que seja capaz de nos colocar no local de plenitude.
O processo é totalmente inverso, é preciso ir para as profundezas, preciso mergulhar na essência, é preciso se compreender sem distrações ou superficialidade. Só assim, seremos capazes de TRAZER essa paz para o mundo, ao invés de ESPERAR por ela. Não fique no raso esperando ser acolhido e compreendido. Você corre o risco de tomar um belo “caldo” quando uma onda maior vier em sua direção.
É de dentro pra fora. Somos nós que trazemos luz, paz, plenitude pro mundo e não o contrário. Só assim seremos capazes de estarmos em uma zona de guerra e ainda assim achar um local de tranqüilidade interna.
Hoje, é bem provável que volte à NYC e me apaixone pela cidade e curta todas as suas cores.
NÃO TEM MAIS VOLTA
O mundo tende a ser cada vez mais frenético e intenso. E, a menos que você seja um monge, em sua essência, e vá morar em alguma montanha no Tibete, não tem como escapar.
Portanto, o mergulho precisa ser corajoso. É desafiador, incômodo, mas necessário. Precisamos aprender a estar no mundo, seja ele da maneira que for. Para uns mais leve, para outros mais intenso.
Temos à nossa disposição uma série de terapias convencionais e alternativas que podem nos auxiliar nesse processo, durante o mergulho interno.
Cursos, livros, mentorias, grupos, uma infinidade de ferramentas disponíveis para acessarmos o autoconhecimento e chegarmos a essa tão almejada paz de espírito.
Vá em busca de algo que faça sentido para você. Mas mergulhe, o raso é o pior lugar aonde você pode ficar.