Você já deve ter ouvido que tudo vai bem, quando tudo está “sob controle”, ou submetido ao controle. Ao seu controle, pelo menos.
Nosso mundo ocidental nos diz o tempo todo que não podemos e nem devemos deixar as coisas fora do lugar. Precisamos controlar nossos pensamentos, nossos sentimentos, nossas emoções, nosso dinheiro, nossos filhos, cônjuges, amigos, colegas de trabalho, a vida doméstica, os estudos, enfim. Deus nos livre de perder o controle!
Sem controle, tudo parece estar confuso e sem direcionamento e logo somos tomados por uma sensação de insegurança. É possível então que associemos o controle, de qualquer ordem, ao fato de nos sentirmos seguros.
A propósito, ninguém gosta de ser pego de surpresa em uma situação que não estava prevista, não é mesmo? Causa desconforto, constrangimento e muitas vezes gera angústia. Então, para que?
O dicionário diz que “controle é a ação de controlar, de possuir domínio sobre algo ou alguém. Domínio de si mesmo; autocontrole. Capacidade de agir com moderação, comedimento”. Mas quanto disso é benéfico para a nossa saúde mental e desenvolvimento? Quanto desse controle é exatamente aquilo que nos adoece?
Quem aqui se lembra do filme “Click”, onde Adam Sandler interpreta um jovem pai de família que encontra a solução para seus problemas profissionais e familiares usando um controle remoto?
Quem viu sabe que a história não acaba bem e o que era para ser comédia termina em um drama (sensacional, diga-se de passagem).
Sem querer dar spoiler, mas o fato é que o personagem de Sandler resolve usar o controle remoto para acelerar o que de ruim acontecia na vida dele e desacelerar o que era prazeroso. Assim, ele podia escolher o que gostaria de viver mais ou menos, de acordo com a sua zona de conforto. Deu tudo errado. No fim ele percebe que ao querer controlar a vida, perdeu de literalmente de viver o que precisava ser vivido, com o que vinha de luz e de sombra. Perdeu de viver as relações que tanto nos fazem crescer através do compartilhamento das emoções e experiências vividas.
Qual a dose certa de controle?
Deixar o controle de lado é um exercício. O fato não é deixar tudo em desordem. Planejar, organizar e prever, são ações saudáveis e nos ajudam a manter rotinas em todas as frentes: na nossa vida pessoal, familiar e profissional. E sim, gera estabilidade e segurança.
O controle na dose certa está implícito nessas ações. O problema é quando exageramos e saímos do equilíbrio saudável entre deixar que as coisas aconteçam como precisam ser e querer que elas sejam do nosso jeito. Quando não são – e invariavelmente não são: frustramos.
Lá vem a dor, a insegurança, o medo, a angústia e a ansiedade. É uma lista infindável de sentimentos ruins que caminham de mãos dadas com a sensação de impotência diante das coisas.
Ou alguém aqui consegue controlar se um bebê vai nascer doente, ou se o carro do vizinho vai furar o sinal nas próximas horas, ou mesmo se um avião vai cair?
Quando consideramos que situações e ações estão fora da nossa zona de controle, aceitamos com mais facilidade aquilo que não está em nossas mãos decidir.
Você entra no avião, pode até ter medo, sentir um desconforto, mas você confia que o piloto vai colocar aquela montoeira de aço no ar e depois no chão. Do contrário, você nem faria o checkin.
Você confia que seu bebê vai nascer saudável, do contrário, pode ser que nem tentasse.
Você confia que os carros irão parar no sinal vermelho, do contrário, você pararia em todos os sinais de verde.
Aceitação é o melhor remédio para lidar com o descontrole da vida
Uma boa forma de combater o controle e não se sentir completamente vulnerável quando as coisas não saem como o previsto é através da aceitação.
Isso vale para pessoas, sentimentos, dores e desafetos. Quando você aceita pessoas e circunstâncias como realmente são, sem querer controlá-las, você finalmente relaxa e aproveita a jornada.
Se você precisa de agenda e várias listinhas para controlar a sua jornada e afazeres, pode continuar com elas. Faça como quiser, mas permita a fuga delas também. Quantas vezes você programou uma viagem, um passeio, a entrega de um trabalho e as variáveis que não estão sob o seu controle atrapalharam seus planos? E como foi que você reagiu a isso? Imagino que muitas vezes frustrado ou irritado com o resultado. Mas quanto desse final imprevisto poderia ter sido diferente?
Relacionamentos saudáveis exigem doses mínimas de controle
Relacionar-se bem é uma arte. Se o outro não corresponde ao nosso nível de expectativa, logo não estará no nosso controle. Costumamos manter relações aonde os nossos passos são milimetricamente calculados para que nos sintamos confortáveis e seguros. Mas no mundo as coisas não são assim.
Quando não damos conta de lidar com um colega de trabalho que compete além dos padrões éticos, com um subordinado que não entrega a tarefa no prazo, quando um filho não atende nossas demandas, quando um parceiro ou parceira não tem o mesmo nível de entrega que pretendemos da relação, perdemos o tal controle.
É quando entramos em conflito, quando “batemos de frente”, quando subimos o tom da conversa, quando usamos do autoritarismo e não da autoridade. Tudo porque não temos o controle da situação.
Novamente o antídoto está na aceitação. Aceitar que o outro tem sua limitação de entrega e saber com acolhimento e atenção orientar um filho no melhor caminho. Compreender, mesmo que seja desconfortável, o caminho agressivo que seu colega de trabalho escolheu para sobreviver ao mundo corporativo. Se posicionar sempre, mas com ternura e aceitação.
Alguns talvez encarem tudo isso como fraqueza, afinal de contas como aceitar erros alheios quando eles podem ter um reflexo negativo em nossas vidas. É eu sei, parece utópico, mas é possível e plausível.
A escolha vai ser sempre sua. Entre ter razão e promover a paz, prefira a segunda opção. Porque nunca, nunquinha nessa vida você será capaz de controlar pessoas, situações ou circunstâncias. Nem a você mesmo, sinto informar. Quantas vezes você se prometeu aquela dieta na segunda-feira? Ou uma lista de mudanças no dia 31, que no dia 1°não tinha mais sentido? Ouaquele hábito ruim que você já se prometeu para mil vezes?
Comece aceitando os seus erros, suas sombras seus tombos. Olhe para o lado e sinta empatia pelos erros, sombras e tombos alheios. Aceite o que é seu e devolva o que não é.
Exercite a sua capacidade de aceitação. Busque isso na meditação, no autoconhecimento, nas terapias, nos livros, aonde quer que faça sentido para você, mas comece já.
De todos os ditados populares, esse realmente faz todo o sentido: aceita, que dói menos!
Ana Cláudia Freire é jornalista, comunicadora, gestora de desenvolvimento pessoal e profissional e colaboradora da Soul Gestão da Essência.
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